Cheguei em Montreal pouco depois da meia-noite. Sai do avião e segui para a imigração, ainda arrastando minha malinha de 14 kg. Chegando lá estava tudo muito tranquilo, sem fila. Fui atendida, inicialmente, por um jovem quebecois bem simpático que ao ver que eu havia levado todos os formulários preenchidos (bens que levei, goods to follow, etc) ficou abismado e fez questão de mostrar aos colegas. Achei muito engraçado isso. Será que o normal é a pessoa chegar despreparada?
Enfim, em seguida fui encaminhada para o setor de imigração propriamente dito, por um quebecois não tão jovem e não tão simpático. Tudo muito simples. No entanto, não tomou conhecimento dos meus formulários carinhosamente preenchidos e quando eu perguntei a quem eu entregaria (sobretudo em razão do goods to follow) disse que deveria mostrar para a pessoa do customs, lá onde entrega o papel que preenchemos no avião.
Nesse mesmo momento ele me deu um livreto e já preencheu a solicitação do cartão de residente permanente que ficou faltando apenas que eu fornecesse um endereço, o que fiz posteriormente através do site já que não tinha um endereço naquele momento.
Minha próxima parada seria pegar as malas. E lá fui eu. O único problema era que o setor de bagagens ficava a um milhão de anos-luz do setor de imigração, algo muito preocupante tendo em vista que eu ainda arrastava minha linda malinha de mão, sem carrinho. Acho que minha cara de sofrimento era tamanha que lá por 1/3 do caminho um milagre aconteceu: de repente, não mais do que de repente, para um daqueles carrinhos que transportam idosos pelo aeroporto (que eu já havia visto passar uns 10mn antes e tinha acompanhado com um olhar de pura inveja) e a santa senhora que o dirigia parou e perguntou se eu queria carona. Precisava perguntar? CLARO que quero! E lá fui eu até o setor de bagagens no carrinho para idosos. Nunca me senti tão feliz na vida.
As malas
Então pude pegar um carrinho de malas e recolher as minhas bagagens que a essa hora já me esperavam na esteira (primeira vez na vida que não passo quinhentos anos esperando minhas malas que sempre têm o dom de serem as últimas a aparecer).
Fui então em direção à saída onde um senhor recolhia as declarações preenchidas no avião (e não verificava NINGUÉM - acho que ele estava com sono). Pensei comigo mesma: é a ele que entrego os benditos formulários! Perguntei. Ele fez cara de desentendido, pediu para eu esperar e continuou atendendo a fila. Vi que ia ser difícil resolver isso. E realmente seria. Ele disse que eu deveria retornar à imigração, pois seria resolvido com eles. Como assim? Láaaaa na imigração que fica a quinhentos anos-luz de distância? E sem carrinho de velhinho para me levar? No way. Ponderei por dois minutos e, enfim, não tenho mesmo muito o que trazer depois (só roupas, livros e alguns objetos) então larguei a mão. Deixei para lá mesmo. Sei que pode me dar uma dorzinha de cabeça mais tarde, mas, realmente, eu não tinha condições físicas de ficar para lá e para cá no aeroporto de Montreal as 1h da manhã para que decidissem quem tinha que receber e carimbar meu formulário.
Enfim, saí para a area comum do aeroporto. Como eu havia decidido não mais alugar um carro, mas sim pegar um ônibus da Orleans Express até Quebec e que o próximo ônibus saia às 8h15 - e eu não estava com o menor saco de ir para hotel, descarregar malas, cochilar 4 horas, carregar malas e ir de novo ao aeroporto - fiquei no aeroporto mesmo. Nessa hora tem pouca coisa aberta, acho que só três opções de lanchonete. Fiquei um tempo em uma delas, lanchei e fui procurar um local para esperar o novo dia.
Por volta das 6 horas da manhã olhei pelo vidro e vi que estava nevando! Tinha recepção melhor para mim? Neve em pleno mês de maio! Maravilha.
Voltando à jornada: as 7 horas fui procurar saber onde comprava o bilhete de ônibus e descobri que é numa casa de câmbio que fica no portão de saída dos vôos internacionais, mas que ela só abre as 8h, exatos 15mn antes do ônibus partir. Fiquei de plantão na porta. As 8h a funcionária chega, mas avisa que terá que abrir o caixa e só abrirá ao público em meia hora. Como assim? O ônibus sai em 15mn e só posso comprar o bilhete lá. E o próximo ônibus só sairia as 11h... Explico a situação e ela, gentilmente, abre uma exceção e me vende o bilhete antes de abrir o caixa. Depois fechou a loja de novo. Sai de fininho antes que houvesse motim das 10 outras pessoas que aguardavam na fila. rs.
Pouco depois o ônibus chegou e eu finalmente comecei o último trecho da viagem. O ônibus é bom, bastante confortável e tem, inclusive, tomada para quem quiser ligar um celular ou notebook. No aeroporto só subiu outra pessoa além de mim, mas ao chegar na estação do centro da cidade o ônibus encheu. Mas, felizmente ninguém sentou ao meu lado. Pouco depois eu adormeci. E só acordei ao avistar a ponte que marca a entrada em Quebec.
Chegando na rodoviária, que também é ferroviária, fui pegar um dos carrinhos para colocar as malas. Pela primeira vez na viagem era necessário colocar moedas para utilizá-lo - as quais são devolvidas depois. O problema era fazer o carrinho aceitar as moedas e ser liberado. Tentei. Não consegui. Tudo bem, devo estar fazendo alguma besteira. Vamos chamar um local para resolver isso. Coloco minha timidez de lado e chamo o primeiro quebecois que passa pela frente. O sujeito tentou, tentou, tentou e... também não conseguiu liberar o carrinho. Ok, merci.
Conclui que aquela fileira de carrinhos deveria estar quebrada. Arrasto as malas até a parte de dentro da rodoviária (3 metros de puro sacrifício) e tento novamente com outra fileira de carrinhos. Nada! Ai jesus, e agora? Carrego as malas sozinha até encontrar a Roberta que foi me buscar? A coitada da Roberta vai ter que me ajudar com meus pesos-pesados? Ninguém merece... Vamos lá, o que é que custa tentar de novo? Pois bem, tentei e... nada. Vamos então pedir ajuda para os universitários quebecois de novo. Passa um outro senhor. Vou lá pedir ajuda. Ele tenta, tenta, tenta e... nada. É o negócio não é fácil não. Será que tem manual para vender? Agora estava mesmo cogitando arrastar as malas. Olho mais uma vez, desolada, para os carrinhos salvadores e eis que passa um senhor com o uniforme da companhia ferroviária. Oba! Esse é profissional. Tem que saber, né? Ha ha ha. Até parece. Os carrinhos venceram de novo. Parece até aqueles programas de pegadinha, né? O senhor tentou, tentou, tentou... e chamou um colega que passava. Pois bem, foi esse santo homem (QUARTO a tentar - sem contar comigo) que finalmente desvendou o mistério dos carrinhos e conseguiu soltar um para mim. Abençoado seja!
E lá vão as malas de novo para o carrinho. Agora é achar a Roberta porque nesse meio tempo meu celular (onde estava o número dela) descarregou. Felizmente ela estava a exatos 10 metros de mim. Ufa! Nada como encontrar um rosto conhecido te esperando ao chegar em uma nova cidade, uma nova vida. Obrigado Roberta, do fundo do coração.
Mas, ainda não foi o momento do descanso. Aceitei o convite da Roberta e fui almoçar com ela, o Lucas e outros brasileiros em comemoração ao dia das mães em um restaurante. A comida estava deliciosa. A companhia ótima. Adorei.
Só depois do almoço fui ao B&B onde estou hospedada e após levar todas as malas para o quarto (o dono do B&B as subiu, graças aos céus) é que pude tomar um bom banho e descansar.
E assim acaba a saga de minha viagem: do Recife ao Québec em 26 horas.
30 de maio de 2010 às 18:45
adorei as fotinhas e a cor das malas, o duro é carregar né?..bjokas menina. elen-0)