Carteira de motorista em Québec - Parte 2

Após ter passado pelo teste teórico eu pude tirar a carteira de motorista aprendiz. Essa carteira que custou uns CAD 50,00  me permitia dirigir desde que eu estivesse acompanhada por alguém com uma carteira de motorista do Québec com mais de 2 anos de experiência reconhecida (ou 2 anos de carteira de motorista em Québec ou 2 anos de carteira do Brasil desde que já tivesse a carteira do Québec). Lembro que quem tiver uma carteira de motorista do Brasil ainda válida não precisaria tirar essa carteira de aprendiz para treinar para a prova prática.

Assim passei alguns dias praticando. E agradeço demais aos amigos que abriram mão de um tempinho de folga  para me acompanhar pela cidade e me dar dicas. Além disso eu paguei umas aulas com um professor particular indicado por uma amiga do trabalho. Cada hora de aula custou CAD 35,00 e foi bom para saber o que eu estava errando e ter uma noção das diferenças das regras de trânsito daqui. No fim da primeira aula o professor disse que eu passaria na prova, mas mesmo assim eu preferi fazer uma segunda.

Enfim, 14 dias depois de ter pego a carteira de aprendiz fui fazer minha prova teórica. Eu a fiz em Lévis, pois para fazer em Québec teria que esperar mais uns 15 dias por uma vaga. E, claro, também pesou a fama de que em Lévis é menos difícil de passar.

O meu professor particular já havia me dito que em Lévis tem quatro examinadores. Três mulheres e um homem. E que, obviamente, o que era menos exigente era o homem. Na hora eu pensei: poxa, tenho 25% de chance de pegar o homem, claro que isso não vai acontecer.

Pois bem, chegou o grande dia e quando me chamam dou de cara com quem? Sim, O homem! Alivio geral. E lá fomos nós para a prova. Entramos no carro e o meu examinador favorito me explica como vai ser a avaliação. Segundo ele não iria ter muito papo, ele só iria me dar indicações de onde dobrar, com antecedência suficiente, e me observar. Ok, hora de dar partida no carro.

Massssss.... Quem disse que a chave virava? Tentei uma, duas, três vezes. Nada. Era a direção que estava travada e por isso o carro não ligava. Já me considerando reprovada comecei a encarar o exame como um treino para o próximo, pois obviamente uma pessoa que não consegue ligar o carro não vai ser aprovada, né?

Enfim, liguei o carro. Na saída do engarrafamento o meu examinador favorito pergunta à quanto tempo estou no Québec e a partir dai não parou mais de falar. Conversamos os 30 minutos do exame (isso porque no começo ele disse que não ia ter papo, tá?). Sai de lá aprovada e com uma relação de locais a visitar na região de Québec.

Sobre o exame tenho a dizer que aqui o que se pede mais não é ter o controle do veículo (até porque vamos combinar que para controlar carro automático não é preciso ser um Airton Senna), mas sim ter conhecimento das regras de trânsito, olhar os pontos cego e dirigir de forma segura.

Algumas coisas que aprendi:

- Ao mudar de faixa tem que fazer o RACRA, ou seja, olha para Retrovisor, olhar o Angle mort (ponto cego), colocar o Clignotant (pisca-pisca), olhar o Retrovisor e olhar o Angle mort e só então mudar de faixa.

- Se tiver um buraco na sua frente, a não ser que seja uma cratera de um meteoro, não freie. Passe o carro pelo buracão e reze para não quebrar. Porque se freiar ele vai considerar como não sendo seguro, pois alguém atrás pode bater em você (nem adianta argumentar que você viu pelo retrovisor que dava tempo de parra).

- Ao ver uma placa de pare, pare mesmo.

- Ao dobrar à esquerda ou à direito tem que olhar o ponto cego, além de olhar para os lados.

- Em Québec você pode dobrar à direito no sinal vermelho, desde que não tenha placa proibindo. Mas, veja bem, segundo meus colegas de trabalho você PODE, mas não é obrigado. Por via das dúvidas no exame eu não dobrei já que não é uma obrigação.

- Sinal piscando verde significa que você tem prioridade para dobrar. É como um sinal de seta.

- Na prova você faz uma "garagem". No meu caso era no estacionamento do SAAQ e não era entre dois carros, mas tinha apenas um carro do lado da vaga. Segundo o examinador eu tinha direito de "arrumar" o carro uma única vez. 

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Um ano

Hoje, pouco depois da meia-noite, fez 1 ano que coloquei os pés no Canadá. Um ciclo se fechou. Verão, outono, inverno e primavera. Estou aqui de volta à estação dos churrascos, dos "travaux" nas ruas, do por do sol às 20h... E, quando um ano se passa temos a tendência a avaliar o que se passou, a nos perguntar se valeu a pena, se faríamos tudo de novo. Então hoje foi um dia de muita reflexão.

Se eu pudesse abrir um buraco de minhoca de fringe (ou pegar emprestada a DeLorean de Martin McFly - você escolhe sua máquina do tempo preferida) e voltar para maio de 2010, eu faria tudo de novo? 

Por enquanto a resposta é sim. 

É claro que mudar de vida, de país e de profissão não é bolinho. Como tantos já disseram, o mais complicado é a saudade. Não do Brasil, mas sim das pessoas. Saudades de um café com pão caseiro feito com tanto carinho, da conversa jogada fora no carro no caminho ao trabalho, saudades de um abraço, de um bom dia. Enfim, nostalgia do dia-a-dia.

Além da saudade, pesa o fato de que nem tudo aconteceu como planejado. Coisas que eu deveria ter feito há um ano só estão acontecendo agora e por momentos isso desanima. Mas, a vida não é sempre assim? Certamente se eu tivesse ficado no Brasil coisas fora dos planos teriam acontecido e eu teria que lidar com esses obstáculos e vencê-los.

No entanto, basta eu ir ao Vieux-Québec, olhar o Rio St-Laurent ao lado do Château Frontenac, que tudo muda. Nesse momento tenho certeza que estou exatamente onde eu deveria estar. É então que me dou conta que gosto dessa cidade. Gosto do meu dia-a-dia tranquilo. Gosto da mudança das estações, mesmo preferindo (sim, confesso) que o inverno fosse um pouco menos longo. Gosto dos amigos que fiz. Gosto dos parques. Gosto do desafio diário de trabalhar em outra língua. Gosto de sair do trabalho as 16h. Gosto do café com donuts do Tim Hortons. Gosto do silêncio depois de uma grande nevasca. Gosto desse povo que nunca me tratou como uma estrangeira, mas sim como uma nova québécoise.

Enfim, um pedaço do caminho foi percorrido. Mas, muita coisa ainda está por vir. Que venha mais um ano em Québec, na cidade onde escolhi viver.


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