Passo-a-passo do concurso para o governo do Québec: tipos de prova

Como eu disse no ultimo post, se sua candidatura ao concurso foi admitida, você receberá uma carta na qual consta o local, data e hora da prova. Nessa mesma oportunidade é informado quais provas serão feitas. 

Até agora eu fiz uns sete concursos para o Governo do Québec e Revenu Québec. Alguns pediam o segundo grau, outros nível superior em direito. Todos eles seguiram o que vou colocar abaixo. No entanto, não sei se a metodologia é a mesma para todos os concursos disponíveis.

Então, nos concursos que fiz, ao contrário do que acontece no Brasil as provas não foram de conhecimento, mas sim de competência. Isso significa que, por exemplo, no concurso para o cargo de agent de recherche que pede nível superior em direito a prova não é sobre a legislação local. Nada de estudar direito constitucional, penal e civil. No lugar disso são aplicadas um dos tipos de prova indicadas no site carrières. Se não me falha a memória fiz uma prova chamada habilités professionnelles na qual devemos indicar qual atitude tomar em determinas situações referentes à relações inter-pessoais no trabalho. Por exemplo: você está realizando um trabalho em equipe. Um dos integrante do grupo de trabalho não está comparecendo às reuniões e, consequentemente, não está realizando sua parte do trabalho. O que você faz? O outro exame é o de Analyse et raisonnement déductif. Nessa prova é dado um texto legal fictício e devemos responder algumas perguntas sobre ele. Mas, não pense que vai ser necessário ter conhecimento da legislação. Na verdade é mais uma interpretação de texto. Nessa mesma prova tem questões para colocar na ordem correta as etapas para realizar uma tarefa e o ultimo tipo de questão é para traduzir em equação um problema enunciado - e, confesso, isso para mim é algo totalmente impossível de se fazer. Como quase toda pessoa que escolheu direito eu nunca fui muito boa em matemática.

Enfim, os tipos de prova variam para cada concurso, mas no site Carrières tem exemplos das questões para vários tipos de provas. Aconselho a dar uma olhadinha nele.

Outro detalhe importante é que se, no ano anterior, você já prestou uma das provas necessárias para o concurso, você não terá que fazê-la novamente. Sua nota será aproveitada. Por exemplo, eu me inscrevi para os concursos de agente de recherche e de agente de relations du travail ao mesmo tempo. Quando recebi as cartas de admissão para as provas fui informada que deveria fazer duas provas para o concurso para o cargo de agente de relations du travail, mas que só precisaria fazer uma das provas para o de agente de recherche já que os dois concursos pediam a prova habilités professionnelles. Logo, eu não teria que fazer duas vezes a mesma prova. Eu faria apenas para um concurso e a nota aproveitaria para os dois. Do mesmo modo, se eu me inscrever em um concurso que demandasse a prova habilétés professionnelles no próximo ano também não precisarei fazê-la. Assim, pode acontecer de se inscrever em um concurso e em vez de receber uma carta com as informações sobre a realização das provas, o candidato já receba a carta dizendo que passou no mesmo.


Mais algumas informações:

- as provas são em francês e acredito que não é possível fazê-las em inglês.
- Alguns concursos podem requerer a realização de uma prova pratica ou oral. Como nunca foi o caso dos concursos que fiz, não tenho como comentá-las. Mas, fica a informação.

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No próximo post desta série falarei do dia da prova.


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Passo-a-passo do concurso para o governo do Québec: inscrição

Atendendo a pedidos hoje vou falar um pouco sobre o processo de seleção dos concursos públicos da província de Québec. Notem que vou tratar unicamente do Québec e que as outras províncias, assim como o governo federal, têm seus próprios sistemas de seleção.

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O primeiro passo para aqueles que pretendem prestar um concurso publico aqui é pedir a equivalência de seu diploma no MICC. O processo é bastante simples mas, caso não haja nenhuma causa de tratamento prioritário, pode ser bem demorado. O meu levou exatos 6 meses.

A equivalência é imprescindível para ser aceita em um emprego publico. No entanto, é possível fazer a inscrição ao concurso com a comprovação de que esta já foi solicitada. Foi o que eu fiz em minha primeira inscrição.

Em seguida deve-se ficar de olho nos sites Carrières e Revenu Québec onde os appels de candidature (equivalente a nosso edital) são divulgados. Quando surgir algum que se encaixe em sua formação é hora de se inscrever. 

Mas, uma dica: caso você não tenha bem certeza que tenha os requisitos* pedidos se inscreva assim mesmo. É de graça. Na pior das hipóteses você recebera uma cartinha dizendo que infelizmente você não preenche os requisitos para o concurso em questão.

A inscrição normalmente se faz de duas maneiras: ela pode ser online ou em papel. Na inscrição online você clica no link indicado no appel de candidature, preenche o que eles pedem e clica em envoyer. Feito. Agora é só seguir as instruções para saber quando e de que forma você vai saber se foi aceito para fazer a prova. No entanto, muitos concursos ainda não tem a possibilidade de inscrição online. Nesse caso é necessário preencher o formulário indicado e envia-lo por fax ou correios, ou ainda deixando-o no endereço indicado. Na maioria dos casos eles pedem para anexar alguns documentos como a carta de residente permanente e a equivalência de diplomas. E só. Tudo muito simples.

Depois disso é esperar. Um dia - que pode ser em alguns dias ou semanas - você vai ser informado se foi aceito para fazer a prova. Normalmente é nessa mesma oportunidade que você recebe as coordenadas do local da prova, o dia e horário e os tipos de prova que serão realizadas.

Em um próximo post falarei sobre a prova e os resultados.

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* Muitas vezes um diploma pode ser substituído por X anos de experiência, ou vice-versa. Ou então são admitidos os diplomas X, Y, Z ou outra formação pertinente. Então muitas vezes é um pouco confuso saber se você se enquadra ou não.

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Detalhes sobre meu trabalho como funcionária pública

Ao comentar meu ultimo post a "apoema" me perguntou como era trabalhar no governo do Québec. Como faz pouco tempo que estou no Revenu Québec eu vou falar um pouco sobre o que eu fazia no meu primeiro emprego publico, como agente de rentes da CARRA.

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A CARRA (Commission Administrative des Regimes de Retraite et d'assurance) é o órgão público que administra os regimes de aposentadoria do funcionalismo público do Québec. Aqui existem diversos regimes de aposentadoria para o governo, sendo que os mais importantes são o RREGOP e o RRPE, o primeiro para o funcionalismo (fonctionnaires e professionnels) e o segundo para os gestores (gestionnaires). Para maiores informações eu aconselho ler o site da CARRA.

Eu trabalhava no service de rachats que é o departamento responsável pela "compra" de tempo de contribuição. Explicando melhor: assim como no Brasil, para se aposentar o que conta é o tempo de contribuição e não tempo de serviço). Acontece que em algumas ocasiões de nossa vida profissional, apesar de estarmos oficialmente em um emprego, nao contribuímos para a previdência. Isso pode acontecer, por exemplo, durante uma licença não remunerada e uma licença maternidade ou ainda quando a pessoa tinha um contrato como estagiário ou estudante. Assim, em algumas situações a lei permite que você pague a contribuição correspondente a esses períodos e assim conte esse tempo para efeito de aposentadoria.

Enfim, o que eu fazia era analisar se a pessoa tinha direito a efetuar esse "rachat".

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Normalmente os novos funcionários do departamento têm uma formação que dura de 1 a 3 meses. E nesse período não fazem nada além de assistir aula onde vão aprender a base do sistema de aposentadoria e o tratamento dos pedidos de rachat.

Acontece que eu fui a unica a ser contratada naquele período (fim de novembro de 2011) e eles não iriam colocar uma pessoa para me formar por tanto tempo. Então minha formação foi, digamos, mais informal. Para ser mais clara: minha chefe de equipe me mostrou o trabalho por exatos 1 dia e meio. E depois fui me virando.

Claro que eu poderia continuar tirar dúvidas com ela ou meus colegas, mas não era o mesmo que ter alguém 7 horas por dia com você como é o que aconteceu com meus outros colegas de trabalho. E, posteriormente, fui tendo acesso a algumas formações "avulsas" sobre aposentadoria, o sistema que usávamos, etc.

Basicamente, meu trabalho era feito no computador. Um outro departamento recebia os formulários com os pedidos, digitalizava-os, alimentava o sistema e solicitavam documentos que faltassem.  Ao receber um pedido eu tinha que analisa-lo e determinar se o funcionário tinha ou não direito ao que pedia. A analise podia ser um pouco demorada porque eu tinha que verificar muitos detalhes para saber se o pedido podia ser aceito. Mas, eu não tinha que redigir uma decisão fundamentada. Afinal, era uma cargo administrativo e não jurídico.

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Trabalhei 4 meses (ou um inverno) na CARRA. E posso dizer que gostava de meu trabalho. Era algo tranquilo de se fazer apesar de ter muitas particularidades, o que não o tornava monótono. Gostava, sobretudo, das pessoas com quem trabalhei, que me acolheram super bem e com quem ainda tenho contato. Por fim, e não menos importante, amava a localização do escritório, ao lado da rue Cartier e a 20mn de minha casa.

Eu não teria saído de lá por um outro cargo administrativo. Sai porque surgiu a oportunidade perfeita com um cargo em minha área de formação no Revenu Québec. Mas, trabalhar na CARRA foi uma ótima experiência - por mais que a fama do órgão não seja das melhores. E, de quebra, ainda aprendi muito sobre o sistema de aposentadoria do funcionalismo público, algo que vai ser muito útil na minha vida pessoal. 

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Eu acredito piamente que para quem é de uma área como a de direito e pretende seguir uma carreira no funcionalismo público uma boa maneira de começar enquanto não é chamado para um cargo profissional (nível universitário) é de aceitar um cargo de funcionário (nível de segundo grau ou técnico). Acredito que é bem mais fácil ser selecionado - sobretudo por conta da língua - e uma vez la dentro várias portas podem se abrir, seja no mesmo órgão ou em outro. E vários québecois que conheci são de mesma opinião. 

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Novo emprego: trabalhando com direito no governo do Québec

E, depois de 1 ano e 11 meses em Québec, comecei a trabalhar na minha área: direito.

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Tudo começou quando poucos dias depois de chegar à Québec fui à semana de recepção do MICC e ao final fui orientada a fazer concurso publico. Para mim foi uma surpresa porque primeiro eu nem imaginava que eu pudesse fazer concurso publico aqui e segundo eu nunca imaginei que passaria em um concurso publico em direito, pois minha ideia de concurso é o modelo com provas de conhecimento especifico sobre a área.

Mas, segui a orientação do MICC. Pesquisei e vi que o sistema de concurso aqui é bem diferente daquele que existe no Brasil e que poderia dar certo.

E assim, em novembro de 2010 me inscrevi no meu primeiro concurso público no Québec. Como já contei aqui foi esse concurso que me levou ao meu primeiro emprego no governo do Québec, mais precisamente na CARRA onde comecei a trabalhar em novembro de 2011.

Acontece que nesse último ano continuei a me inscrever em concursos, dentre eles o concurso para agente de recherche do Revenu Québec (Receita Federal do Québec). Me inscrevi em outubro, fiz a prova em novembro, recebi o resultado em dezembro e graças à ajuda de varias pessoas (que não posso deixar de agradecer mais uma vez) acabei sendo chamada para a entrevista no dia 17 de fevereiro de 2012. Poucos dias depois fiz uma segunda entrevista e nessa ocasião tive praticamente a confirmação de minha aprovação para a vaga. Faltava apenas verificarem meus antecedentes criminais e minhas referências profissionais (Sim, ligaram para meu chefe na CARRA, onde eu estava trabalhando na época! Momento muito tenso, não vou negar). Mas, finalmente no dia 13 de março eu soube que a vaga era minha e que eu começaria no dia 2 de abril.

E assim comecei a trabalhar como agente d'opposition no Revenu Québec. Meu trabalho consiste em decidir os recursos administrativos interpostos pelos contribuintes - no meu caso pessoa física. Então voltei a  ler códigos interpretados, procurar jurisprudências, analisar documentos e redigir  - dessa vez decisões e não pedidos. Descobri que esses atos estavam gravados em mim afinal dez anos de profissão não se esquece fácil. Mesmo sendo uma legislação diferente e tendo que redigir em uma outra língua a sensação de familiaridade, de estar fazendo o que eu sei fazer, é enorme. E, posso dizer que, independente do que venha a acontecer em minha vida daqui para frente, está sendo uma experiência profissional incrível.



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