Em dois anos e meio é a segunda vez que vou ao médico em Québec. Como sempre, vou preparada para o pior. Afinal, todo mundo só tem historias pavorosas para contar, não é mesmo?
Mas, como sou do contra, vou contar, mais uma vez, uma historia com um final feliz.
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Sexta-feira passada resolvi ir tomar um café no starbucks. Pouco depois de chegar lá notei que o gânglio que fica ao lado de meu maxilar estava muito inchado e dolorido. Eu não sou da área de saúde, mas tinha uma vaga impressão que gânglio inchado significa que o organismo reagindo à alguma doença. E, no fim de semana minhas suspeitas foram confirmadas. Fiquei um pouco mole, a região do gânglio ficou quente e muito dolorida. Na segunda-feira meu ouvido começou a doer um pouco. Como sou Phd em amigdalite eu imaginei que uma crise bem linda estava chegando. E, como da última vez que tive uma crise de amigdalite cumulada com dor de ouvido a coisa foi bem feia eu resolvi encarar o sistema de saúde québecois mais uma vez.
Assim, na quarta-feira, depois do trabalho, fui à clínica Laurier, onde eu tinha ido na minha outra única experiência com o sistema de saúde daqui. Cheguei lá por volta das 17h. Tinha uma pessoa em minha frente. Exatos 15mn depois de chegar fui chamada para a pré-consulta com a enfermeira. Problema contado, pressão, temperatura e batimentos cardíacos checados. Volto para a sala de espera. Mais 15mn e a médica me chama.
Dessa vez não foi o médico-com-cara-de-médico-de-interior-de-filme-americano que me atendeu. Foi uma médica novinha. O veredicto foi que um pedaço do algodão do cotonete ficou preso no fundo do meu ouvido e quando eu limpei de novo ele foi mais para o fundo ainda. E é ele que esta causando esse furdunço todo no meu sistema imunológico. Tem que tirar. Obvio. Só que ele está bem fundo e a médica não tinha a pinça adequada. Teria que ser em um ORL. OR o que Doutora? ORL é como eles chamam o otorrino aqui. Ah. Aprendi mais uma palavra. Aliás, duas. Porque descobri que em québecois algodão se diz ouate.
Mas, e agora? Otorrino é um especialista. E todo mundo sabe que é mais fácil ver enterro de anão do que ter consulta em um especialista no Québec. Não é? Mas, o que fazer... Se é o jeito, vamos lá.
Então perguntei à Dra. como eu faria para ver um ORL aqui. Ela disse que ela mesmo iria encaminhar meu dossier ao especialista e o consultório dele iria me telefonar para informar a data da consulta. Nesse momento eu meio que desesperei. Já meu vi com o pedaço de algodão podre dentro do ouvido por meses a fio. A dor chegando. A orelha inflamada e vermelha. Questionei a Dra. sobre o que fazer se piorasse ou se a consulta demorasse. Ela me disse que se não me ligassem logo eu deveria voltar a vê-la que ela tentaria adiantar. Se doesse ou se eu tivesse febre deveria voltar também. E, claro, tomar tylenol e advil.
Muito desconfiada e bem preocupada voltei para casa, rezei e tomei um tylenol. Não necessariamente nessa ordem.
No dia seguinte, por volta do meio-dia, meu telefone tocou. Eu não vi a ligação, mas havia uma mensagem em minha caixa postal: a clínica St-Louis havia me ligado. Retornei a ligação me recriminando por ter duvidado da eficácia do sistema quebecois. Mas, infelizmente, não era para me informar o dia da consulta. Era para dizer que meu pedido de consulta foi encaminhado para o hospital Hotel Dieu e que eles iriam me ligar. E se eu não tivesse notícias em 10 dias eu deveria ligar para a clínica. Novo ataque de desespero. Questiono a enfermeira sobre quanto tempo levaria para ser atendida e o que eu faria se demorasse. Ela disse que eu poderia tentar ligar para as clínicas que tem otorrino e tentar marcar. E, se nos 10 dias eu não tivesse noticias do hospital, ela poderia tomar medidas, digamos, mais drásticas.
E ai comecei a pensar novamente em todas aquelas historias de terror sobre o sistema de saúde daqui.
Sexta-feira de manhã. O medo de ter um algodão de estimação pelos próximos meses me fez tentar marcar uma consulta em alguma clínica. Vai que eu conseguia algo rápido. Melhor tentar. E assim liguei para a primeira da lista. Depois de um breve bate-papo com a (grossa) da recepcionista fui informada que só tinha vaga para dia 31 de outubro. Sem possibilidades de encaixe. Deixei para lá. Achei melhor ver se o hospital me ligava, como prometido.
E... Não é que pouco depois do meio-dia eu recebo um telefonema do hospital! Marcando minha consulta com o médico especialista para segunda-feira de manhã, menos de 5 dias depois de minha ida ao clinico geral.
E é por isso, caros amigos de imigração, que eu não posso reclamar, pelo menos até agora, do sistema de saúde do Québec. Não sei se sou sortuda ou apenas se de uma forma ou de outra pego o caminho certo dentro das possibilidades que o sistema oferece. Só sei que "so far, so good".
Segunda-feira tento postar como foi a consulta com o especialista.